quarta-feira, 22 de agosto de 2012

IMPERFEIÇÃO E PERFEIÇÃO

Uma das maiores fontes de insatisfação e ansiedade para o ser humano é a dificuldade em aceitar a si mesmo. Muitos se condenam por não ter o padrão de beleza imposto pelo mundo, por não possuírem a riqueza almejada ou o sucesso e o reconhecimento no campo profissional.

Sentem-se excluídos e indignos de admiração e respeito. O pior que pode acontecer a alguém é não se considerar digno aos seus próprios olhos. Ainda que o mundo inteiro nos condene, se tivermos uma autoestima sólida, nada poderá nos desviar da convicção de que temos valor, ainda que apresentemos alguma imperfeição.

Mas, quando isto não acontece, tornamo-nos vulneráveis ao julgamento do mundo, impondo-nos um esforço sobre-humano para nos encaixar nos padrões que, acreditamos, nos garantirá o amor e a aceitação alheias.

...As pessoas julgaram-no, e você deve ter aceito as idéias delas sem nenhuma investigação. Você está sofrendo de todas as espécies de julgamento das pessoas, e você está jogando esses julgamentos nas outras pessoas. E todo esse jogo desenvolveu-se além da proporção - a humanidade inteira está sofrendo disso.

Se você quiser livra-se disso, a primeira coisa é esta: não se julgue. Aceite humildemente sua imperfeição, seus fracassos, seus erros, suas faltas. Não há nenhuma necessidade de fingir outra coisa. Seja você mesmo: "É assim mesmo que eu sou, cheio de medo. Eu não posso andar na noite escura, não posso ir lá na densa floresta.". O que há de errado nisso? - é humano.

Uma vez que você se aceite, você será capaz de aceitar os outros, porque você terá uma clara visão interior de que eles estão sofrendo da mesma doença. E a sua aceitação deles, os ajudará a aceitarem-se.

Nós podemos reverter todo o processo: aceite-se. Isso o torna capaz de aceitar os outros. E porque alguém os aceita, eles aprendem a beleza da aceitação pela primeira vez - quanta tranquilidade se sente! - e eles começam a aceitar os outros.

Se a humanidade inteira chegar ao ponto onde todo mundo é aceito como é, quase noventa por cento da infelicidade simplesmente desaparecerá - ela não tem fundamentos - e os seus corações se abrirão por conta própria e o seu amor estará fluindo".

A perfeição é algo totalmente impossível de se alcançar, pois a comparação com os demais, sempre nos trará algum quesito em que seremos superados por outra pessoa.

Portanto, o melhor a fazer é tentar aceitar a nós mesmos de modo incondicional, buscando superar nossas limitações mas sem nos deixarmos dominar pela angústia e a infelicidade, quando isto não é conseguido.

Todos temos direito a respeito e consideração, não importa quais as condições sociais, econômicas ou raciais em que nos encontremos. Ter esta convicção arraigada dentro de nós é a única maneira de construirmos um mundo em que a discriminação, o julgamento e o preconceito estejam totalmente ausentes.

"....a primeira coisa é esta: pare de se julgar. Ao invés de julgar, comece a aceitar-se com todas as suas imperfeições, todas as suas debilidades, todos os seus erros, todos os seus fracassos. Não peça a si mesmo para ser perfeito - isso é, simplesmente, pedir pelo impossível e, depois, você se sentirá frustrado. Você é um ser humano, afinal de contas.

Olhe para os animais, para os pássaros; nenhum deles está preocupado, nenhum deles está triste, nenhum deles está frustrado. Você não vê um búfalo dando fricote. Ele está perfeitamente contente, mascando a mesma grama todos os dias. Ele é quase iluminado. Não há nenhuma tensão: há um tremenda harmonia com a natureza, com ele mesmo, com tudo como é. Os búfalos não criam partidos para revolucionar o mundo, para tornar os búfalos em superbúfalos, para tornar os búfalos religiosos, virtuosos. Nenhum animal está interessado nas idéias humanas.

E eles todos devem estar rindo: "O que aconteceu a vocês? Por que você não pode ser apenas você mesmo, como você é? Qual é a necessidade de ser uma outra pessoa?".
Assim, a primeira coisa é uma profunda aceitação de você mesmo.

...As pessoas julgaram-no, e você deve ter aceito as idéias delas sem nenhuma investigação. Você está sofrendo de todas as espécies de julgamento das pessoas, e você está jogando esses julgamentos nas outras pessoas. E todo esse jogo desenvolveu-se além da proporção - a humanidade inteira está sofrendo disso.

Se você quiser livra-se disso, a primeira coisa é esta: não se julgue. Aceite humildemente sua imperfeição, seus fracassos, seus erros, suas faltas. Não há nenhuma necessidade de fingir outra coisa. Seja você mesmo: "É assim mesmo que eu sou, cheio de medo. Eu não posso andar na noite escura, não posso ir lá na densa floresta.". O que há de errado nisso? - é humano.

Uma vez que você se aceite, você será capaz de aceitar os outros, porque você terá uma clara visão interior de que eles estão sofrendo da mesma doença. E a sua aceitação deles, os ajudará a aceitarem-se.

Nós podemos reverter todo o processo: aceite-se. Isso o torna capaz de aceitar os outros. E porque alguém os aceita, eles aprendem a beleza da aceitação pela primeira vez - quanta tranquilidade se sente! - e eles começam a aceitar os outros.

Se a humanidade inteira chegar ao ponto onde todo mundo é aceito como é, quase noventa por cento da infelicidade simplesmente desaparecerá - ela não tem fundamentos - e os seus corações se abrirão por conta própria e o seu amor estará fluindo".

OSHO, The Transmission of the Lamp

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A RENÚNCIA DE CADA EU

Há vários eus na morada de cada indivíduo. Não existe mistério na fé, apenas uma crença equivocada e determinante, ovacionando o que é seguido, complementado, aglutinado. Cada uma de nossas tendências, falo das múltiplas faces da personalidade, compõe traços distintos para o enfrentamento nos diferentes sistemas em que o homem se inseri. A individualidade da pessoa é, de fato, o reduto fundamental de origem e de desenvolvimento do enigma, onde desconhecer é a tarefa contundente que anula e dá estagnação para a criatura viva e pensante. O movimento primário do indivíduo é o de lutar contra essa situação, fugindo a outro ponto, antagônico, ao inicial. Não sei corro para saber. Ausente de compreensão, busca pela saciação e outras mais.

Numa primeira fase, o ser agrega elementos e diversifica sua participação, formando, em si, uma multiplicidade de eus. Um perfil definido, dentro de uma ação específica e com responsabilidades variadas, fazem com que partes distintas, integradas, sejam projetadas a essas diferentes realidades. Para a vida familiar, lança-se um tipo, assim como para cada membro constituinte, um subtipo derivado. A atividade profissional segue a mesma prerrogativa, os laços acadêmicos, mais informais são atuados semelhantemente, como o é na atividade religiosa, no lazer e compromissos sociais em geral. Em cada tipo de vivência, emerge um eu especializado para atender a demanda de seu potencial e de suas limitações a fim de conquistar um intento estabelecido para aquilo.

Os eus não afloram apenas pelos sistemas voluntários impostos por si na trajetória. Cada pessoa que passa a conviver transforma-se em um subsistema, um tipo de núcleo secundário que também vai delimitar o surgimento e a expansão dos eus de cada um de nós. Esses subsistemas pessoais, são ramificados em ramos diversos pela ação do tempo, onde nem sempre o presente retrata similaridade com o passado e o futuro nem mesmo certeza de existência terá, quanto mais à manutenção daquilo que já fora.

Os próprios eus afloram em botões e pétalas com vida própria. A agregação de conhecimento e a amplitude sobre o olhar à vida e aos seus fenômenos, consolidam e fortalecem cada um deles, fazendo-os mutantes de si mesmos. Aprofundando um pouco mais, os inúmeros eus que preenchem a identidade transitória, modificam-se, moldando-se ao redor de limitações surgidas natural e artificialmente. Por maturação ou desgaste. Consciência ou vantagem, pelo menos algum tipo. A combinação variada e alternativa para ramificação dos eus pode ser descrita, matematicamente, como tendo um exponencial de elevação “n”.

Um possível efeito da relação interna dos vários eus é a asfixia do que de fato é e senti o eu primário, ou, alma, assim poderíamos, atrevidamente, definir. A alma primária representa o âmago, o eixo central de condução. A sobreposição dos eus derivados, gera, espontaneamente, conflitos para ordenação e regularização funcional, porém, quando em demasia e com níveis elevados de contaminação, evoluem para guerras internas onde a edificação de uma nova realidade passa a ser não mais uma meta, mas, sim, uma obsessão. Esse atrito promove movimento e, consequentemente, um deslocamento do centro vital. O que nem sempre é percebido, são as indispensabilidades que, cada um desses gladiadores aplicam a todos os demais eus e para cada elemento das relações traçadas, no sentido de conquistar à compreensão, a simpatia, a empatia e, definitivamente, a internalização de todos como forma de aceitação e enraizamento do desejado novo. Cercados por tantos simpatizantes, os eus passam, então, a sentirem-se falsamente, cercados de companhias altruístas e colaborativas. Inflam-se e esmagam em definitivo o que realmente conceitua o eu primário, ultrapassando a hierarquia na escalada prioritária para a alma.

Abandonar a todo esse conteúdo formado, desistindo do egoísmo arquitetado e rejeitando o reconhecimento que enaltece um status, não é simples e nem tarefa fácil. Esse êxito, contudo, faz livrar-se das amarras, mesmo com exposições, mas, acima de tudo, coloca nas mão, o infinito de todas as potencialidade que o eu primário possui. Encapsulados em gaiolas, cada um dos eus vive em redor de si mesmo, andando em círculos e a somatória das forças de cada um, enjaulam o eu primário, mantendo-o num cativeiro.

A rede estabelecida nesse processo, faz com que correntes imaginárias prendam um ao outro, mantendo-os dependentes, sem movimentação independente. Escravos de si, do outro e de todos. O afastamento dessa estrutura, ou, a renúncia do todo que se faz constituir, faz das asas um salto de liberdade à amplidão que não deseja ser entendida.

Clécio Carlos Gomes