quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A RENÚNCIA DE CADA EU

Há vários eus na morada de cada indivíduo. Não existe mistério na fé, apenas uma crença equivocada e determinante, ovacionando o que é seguido, complementado, aglutinado. Cada uma de nossas tendências, falo das múltiplas faces da personalidade, compõe traços distintos para o enfrentamento nos diferentes sistemas em que o homem se inseri. A individualidade da pessoa é, de fato, o reduto fundamental de origem e de desenvolvimento do enigma, onde desconhecer é a tarefa contundente que anula e dá estagnação para a criatura viva e pensante. O movimento primário do indivíduo é o de lutar contra essa situação, fugindo a outro ponto, antagônico, ao inicial. Não sei corro para saber. Ausente de compreensão, busca pela saciação e outras mais.

Numa primeira fase, o ser agrega elementos e diversifica sua participação, formando, em si, uma multiplicidade de eus. Um perfil definido, dentro de uma ação específica e com responsabilidades variadas, fazem com que partes distintas, integradas, sejam projetadas a essas diferentes realidades. Para a vida familiar, lança-se um tipo, assim como para cada membro constituinte, um subtipo derivado. A atividade profissional segue a mesma prerrogativa, os laços acadêmicos, mais informais são atuados semelhantemente, como o é na atividade religiosa, no lazer e compromissos sociais em geral. Em cada tipo de vivência, emerge um eu especializado para atender a demanda de seu potencial e de suas limitações a fim de conquistar um intento estabelecido para aquilo.

Os eus não afloram apenas pelos sistemas voluntários impostos por si na trajetória. Cada pessoa que passa a conviver transforma-se em um subsistema, um tipo de núcleo secundário que também vai delimitar o surgimento e a expansão dos eus de cada um de nós. Esses subsistemas pessoais, são ramificados em ramos diversos pela ação do tempo, onde nem sempre o presente retrata similaridade com o passado e o futuro nem mesmo certeza de existência terá, quanto mais à manutenção daquilo que já fora.

Os próprios eus afloram em botões e pétalas com vida própria. A agregação de conhecimento e a amplitude sobre o olhar à vida e aos seus fenômenos, consolidam e fortalecem cada um deles, fazendo-os mutantes de si mesmos. Aprofundando um pouco mais, os inúmeros eus que preenchem a identidade transitória, modificam-se, moldando-se ao redor de limitações surgidas natural e artificialmente. Por maturação ou desgaste. Consciência ou vantagem, pelo menos algum tipo. A combinação variada e alternativa para ramificação dos eus pode ser descrita, matematicamente, como tendo um exponencial de elevação “n”.

Um possível efeito da relação interna dos vários eus é a asfixia do que de fato é e senti o eu primário, ou, alma, assim poderíamos, atrevidamente, definir. A alma primária representa o âmago, o eixo central de condução. A sobreposição dos eus derivados, gera, espontaneamente, conflitos para ordenação e regularização funcional, porém, quando em demasia e com níveis elevados de contaminação, evoluem para guerras internas onde a edificação de uma nova realidade passa a ser não mais uma meta, mas, sim, uma obsessão. Esse atrito promove movimento e, consequentemente, um deslocamento do centro vital. O que nem sempre é percebido, são as indispensabilidades que, cada um desses gladiadores aplicam a todos os demais eus e para cada elemento das relações traçadas, no sentido de conquistar à compreensão, a simpatia, a empatia e, definitivamente, a internalização de todos como forma de aceitação e enraizamento do desejado novo. Cercados por tantos simpatizantes, os eus passam, então, a sentirem-se falsamente, cercados de companhias altruístas e colaborativas. Inflam-se e esmagam em definitivo o que realmente conceitua o eu primário, ultrapassando a hierarquia na escalada prioritária para a alma.

Abandonar a todo esse conteúdo formado, desistindo do egoísmo arquitetado e rejeitando o reconhecimento que enaltece um status, não é simples e nem tarefa fácil. Esse êxito, contudo, faz livrar-se das amarras, mesmo com exposições, mas, acima de tudo, coloca nas mão, o infinito de todas as potencialidade que o eu primário possui. Encapsulados em gaiolas, cada um dos eus vive em redor de si mesmo, andando em círculos e a somatória das forças de cada um, enjaulam o eu primário, mantendo-o num cativeiro.

A rede estabelecida nesse processo, faz com que correntes imaginárias prendam um ao outro, mantendo-os dependentes, sem movimentação independente. Escravos de si, do outro e de todos. O afastamento dessa estrutura, ou, a renúncia do todo que se faz constituir, faz das asas um salto de liberdade à amplidão que não deseja ser entendida.

Clécio Carlos Gomes

Um comentário:

Luz13 disse...

É como diz Aline, da Cidade das Pirâmides,"Ser de luz é viver na luz com atitudes, palavras e pensamentos". Gostei muito do blog e por essa razão partilho com vocês o endereço eletrônico do Programa De Olho no Mundo que fala Do Despertar da Consciência (Verdade revelada ) http://youtu.be/41ecAMCb-4Y
Tenho certeza que gostarão. Abraços.