O que fazemos por amor não fazemos por dever.
Que mãe alimenta o filho por dever?
E há expressão mais atroz do que dever conjugal?
Quando o amor existe, quando o desejo existe, para que o dever?
A nossa vida, privada ou pública, familiar ou profissional, só vale proporcionalmente ao amor que nela pomos ou encontramos.
Por que seríamos egoístas, se não amássemos a nós mesmos?
Por que trabalharíamos, se não fosse o amor ao dinheiro, ao conforto ou ao trabalho?
Isso também é válido, obviamente, em nossa vida moral ou ética. Só necessitamos de moral em falta de amor, repitamos, e é por isso que temos tanta necessidade de moral!
É o amor que comanda, mas o amor faz falta: o amor comanda em sua ausência e por essa própria ausência. É o que o dever exprime ou revela, o dever que só nos constrange a fazer aquilo que o amor, se estivesse presente, bastaria, sem coerção, para suscitar.
Não nascemos virtuosos, mas nos tornamos. Como?
Pela educação: pela polidez, pela moral, pelo amor. A polidez, como vimos, é um simulacro de moral: agir polidamente é agir como se fôssemos virtuosos.
Pelo que a moral começa, no ponto mais baixo, imitando essa virtude que lhe falta e de que no entanto, pela educação, ele se aproxima e nos aproxima. A polidez, numa vida bem conduzida, tem por isso cada vez menos importância, ao passo que a moral tem cada vez mais.
É o que os adolescentes descobrem e nos fazem lembrar. Mas isso é apenas o início de um processo, que não poderia deter-se aí. A moral, do mesmo modo, é um simulacro de amor: agir moralmente é agir como se amássemos. Pelo que a moral advém e continua, imitando esse amor que lhe falta, que nos falta, e de que no entanto, pelo hábito, pela interiorização, pela sublimação, ela também se aproxima e nos aproxima, a ponto às vezes de se abolir nesse amor que a atrai, que a justifica e a dissolve.
Agir bem é, antes de tudo, fazer o que se faz (polidez), depois o que se deve fazer (moral), enfim, às vezes, é fazer o que se quer, por pouco que se ame (ética). Como a moral liberta da polidez consumando-a (somente o homem virtuoso não precisa mais agir como se o fosse), o amor, que consuma por sua vez a moral, dela nos liberta: somente quem ama não precisa mais agir como se amasse.
Sua ausência, mesmo que seja insolúvel, é o que torna as virtudes necessárias. Para que falar de moral, se não faltasse o amor? “A melhor e mais curta definição da virtude é a ordem do amor.” Mas o amor, na maioria das vezes, só brilha por sua ausência: daí o fulgor das virtudes e a obscuridade de nossas vidas. As virtudes, quase todas, só se justificam por esta falta em nós do amor. Elas não poderiam, porém, preencher esse vazio que as ilumina: aquilo mesmo que as torna necessárias impede que as creiamos suficientes.
Pelo que o amor nos destina à moral e dela nos liberta. Pelo que a moral nos destina ao amor, ainda que ele esteja ausente, e a ele se submete.
As palavras "te amo", infinitamente repetidas em todos os tempos, em todo planeta, podem ser, em alguns casos, apenas expressão provisória e vazia. O amor, no fundo é um impulso imediato, ele tem que se manifestar e se afirmar como realidade.
Há três palavras gregas para designar o amor:
Eros, Philos e Ágape. E para cada uma delas, há uma manifestação.
-Eros é o sentimento de um amor intenso que se engrandece e torna-se digno. Ele é o caminho que acompanha e constrói e você se sente realmente feliz. É uma atração saudável e necessária que o ser humano sente um pelo outro e os faz aproximarem-se.
-Philos é a forma de amor em amizade. É o sentimento de um verdadeiro amigo. Quando Eros não consegue mais brilhar, é Philos que mantém os casais no companheirismo, lutando e construindo algo juntos.
-Ágape é o amor total. É aquele que devora. Quem um dia experimentar Ágape verá que nada mais tem importância nesse mundo. É pleno. É o amor que exige apenas o perdão. É a essência da vida. O amor de Deus. São as medidas perfeitas em que Jesus nos deu, dando-nos a própria vida.
Ágape é o amar disponível para fazer da própria vida um Dom. É se consumir para ver a felicidade dos outros. É a força maior voltada para a vitória final.
Agape é como que um amor libertado da injustiça do desejo (Eros) e da amizade (Philos), um amor universal, pois, sem preferência nem escolha, como uma dileção sem predileção, um amor sem limites e mesmo sem justificativas egoístas ou afetivas.
Este foi o amor que Jesus sentiu pela humanidade, e foi tão grande que sacudiu as estrelas e mudou o curso da história. Sua vida solitária conseguiu fazer o que reis, exércitos e impérios não conseguiram.
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